Certamente, o mercado de luxo enfrentou um ano difícil até agora. De acordo com pesquisa da Bain & Company, o luxo pode se contrair entre 20 e 35% em 2020, dependendo da velocidade de sua recuperação.

Desde o início de setembro, o mercado ficou impressionado quando o grupo LVMH, maior conglomerado de marcas de luxo mundial, anunciou que não poderia mais prosseguir com a aquisição da Tiffany & Co. O negócio, estimado em mais de US$ 16 bilhões, teria representado o maior investimento global já feito no setor de luxo e era visto como extremamente benéfico para as duas empresas envolvidas. O acordo havia sido firmado em novembro de 2019, depois de meses de negociações entre as duas empresas e várias ofertas da LVMH, do bilionário empresário Bernard Arnault.

Ambas as partes sofreram devido aos efeitos do COVID-19: a Tiffany registrou uma queda de 36% nas vendas no primeiro semestre deste ano, enquanto a LVMH afirma ter passado por uma queda de 27% nas receitas no mesmo período.

O conglomerado francês disse que não poderia prosseguir com o negócio, por conta de uma possível solicitação do governo francês pedindo para atrasar a aquisição devido a ameaças tarifárias dos Estados Unidos e pelo fraco desempenho da Tiffany devido ao COVID-19. A Tiffany então processou a gigante francesa, alegando que ela ainda estava tentando adquirí-la, mas a um preço inferior ao que havia sido acordado anteriormente.

Para a Tiffany, a efetivação do negócio teria sido muito positiva, afinal ela passaria a englobar o portfolio do maior conglomerado de luxo no mundo. Mas mesmo não dando certo, está longe de ser o fim do mundo para a marca, que é muito valiosa e desejada. A grife realmente terá que voltar a perseguir suas ambições como uma empresa independente, ou talvez procurar outro comprador.

Para o grupo LVMH, a aquisição consolidaria sua posição como um importante player no setor de “hard luxury”, uma especificação da indústria dada a joias e relógios. Isso potencialmente dobraria o tamanho e a lucratividade de seu portfólio nessa categoria, que inclui marcas como Bulgari, Chaumet, Hublot e Tag Heuer.

A disputa entre as duas empresas é apenas uma de uma série de transações abandonadas em meio à pandemia do COVID-19. A L Brands, proprietária da marca de lingerie Victoria’s Secret, cancelou seu acordo de US$ 525 milhões com a empresa de private equity Sycamore Partners, que iria adquirir uma participação majoritária da marca.